Sua Majestade Imperial Hailé Selassié (1892-1975)
Foto da coroação do Imperador Hailé Selassié I (1930)
Graça e Paz.
Para os mais novos, o nome Hailé Selassié provavelmente não significa nada, mas houve época em que esse Imperador africano chamava a atenção do mundo inteiro, sendo até mesmo considerado uma espécie de messias, pelos seguidores da religião rastafari.
Sim, o último imperador da Etiópia, Sua Majestade Imperial, Hailé Selassié I, que governou esse país entre 1930 e 1975, foi um verdadeiro ícone nessa época e queria transformar sua pátria num país desenvolvido.
Pelas segunda, a terceira e a quarta fotos que ilustram este artigo, dá para perceber que seus trajes imperiais remontam a um passado muito distante, em que o mundo ocidental ainda estava em um estágio pouco avançado de civilização e o Oriente Médio era líder em todas as áreas do conhecimento.
S.M.I Hailé Selassié I
Ele pertenceu a uma dinastia cujas origens, ao que consta, ao Rei Salomão e a Rainha de Sabá.
Sim, são dois personagens históricos, mencionados nas Sagradas Escrituras, no Antigo Testamento.
Porém, não há muitas informações sobre o encontro entre Salomão e a Rainha de Sabá, na Bíblia.
Logo a seguir, transcrevemos a passagem bíblica que descreve tal fato, essencial para que os amados irmãos entendam melhor o que queremos aqui abordar.
S.M.I. Hailé Selassié I
1 Reis 10: 1-13 (ACF):
E ouvindo a Rainha de Sabá a fama de Salomão, acerca do nome do SENHOR, veio prová-lo com questões difíceis.
E chegou a Jerusalém com uma grande comitiva; com camelos carregados de especiarias, e muitíssimo ouro, e pedras preciosas; e foi a Salomão, e disse-lhe tudo que tinha no seu coração.
E Salomão lhe deu resposta a todas as suas perguntas, nada houve que não lhe pudesse esclarecer.
Vendo, pois, a Rainha de Sabá toda a sabedoria de Salomão, e a casa que edificara,
E a comida da sua mesa, e o assentar de seus servos, e o estar de seus criados, e as vestes deles, e os seus copeiros, e os holocaustos que ele oferecia na casa do Senhor, ficou fora de si.
E disse ao rei: Era verdade a palavra que ouvi na minha terra, dos teus feitos e da tua sabedoria.
E eu não cria naquelas palavras, até que vim e os meus olhos o viram; eis que não me disseram metade; sobrepujaste em sabedoria e bens a fama que ouvi.
Bem-aventurados os teus homens, bem-aventurados estes teus servos, que estão sempre diante de ti, que ouvem a tua sabedoria!
Bendito seja o Senhor teu Deus, que teve agrado em ti, para te pôr (OBS: a ortografia, de acordo com as normas da ABNT para citações, deve seguir a do texto original, mesmo que ela seja diferente da atual) no trono de Israel; porque o Senhor ama a Israel para sempre, por isso te estabeleceu rei, para fazeres juízo e justiça.
E deu ao rei cento e vinte talentos de ouro, e muitíssimas especiarias, e pedras preciosas; nunca veio especiaria em tanta abundância, como a que a rainha de Sabá deu ao rei Salomão.
Também as naus de Hirão, que de Ofir levavam ouro, traziam de Ofir muita madeira de almugue, e pedras preciosas.
E desta madeira de almugue fez o rei balaústres para a casa do Senhor, e para a casa do rei, como também harpas e alaúdes para os cantores; nunca veio tal madeira de almugue, nem se viu até o dia de hoje.
E o rei Salomão deu à rainha de Sabá tudo o que ela desejou, tudo quanto pediu, além do que dera por sua generosidade; então voltou e partiu para a sua terra, ela e os seus servos. (Primeiro Livro de Reis, Capítulo Décimo, Versículos Primeiro a Treze, na Tradução Corrigida e Fiel de João Ferreira de Almeida).
Link para a página completa onde se encontram esses versículos:
Para fins de coerência em nosso texto, consideraremos a atual Eritreia (que já fez parte da Etiópia), país africano que se tornou uma nação independente em 1993 ou, alternativamente, a própria Etiópia.
Lembremos que o Iêmem, país asiático, localizado na Península Arábica e o próprio Sudão também são tidos como possíveis localizações do antigo Reino de Sheba (Shevá, em hebraico) ou Sabá (em língua portuguesa).
Enfim, a Eritreia ou a própria Etiópia, será nossa escolha, para fins de análise do tema apresentado neste modesto artigo.
O link abaixo leva a um artigo sobre os falashas, judeus etíopes que acredita-se serem descendentes do rei Salomão e da rainha de Sabá:
Da esq. para a dir.: Príncipe Akihito (Japão) e S.M.I. Hailé Selassié
S.M.I. encantava, impressionava, fascinava a todos que o viam, com raras exceções, pois sua postura e, ao mesmo tempo, simplicidade, magnetizavam as multidões.
Todos queriam estar perto e conhecer aquele que era tido como descendente de tão importantes personagens da História da Humanidade.
Ainda por cima era um grande orador e, quando subia a uma tribuna, seus discursos eram lendários.
Curiosamente, até hoje a língua oficial da Etiópia é o
amárico (não confundir com o aramaico), a segunda língua semítica mais falada do mundo, depois do árabe.
Da esq, para a dir.: Presidente John Fitzgerald Kennedy (sentado) e S.M.I. Hailé Selassié (em pé, de farda)
Muitos o chamavam Rás Tafari (rás significa cabeça, em língua amárica e tafari quer dizer quem é respeitado/temido).
Dado o seu imenso carisma, desnecessário dizer que acabou surgindo a idolatria em relação a ele, em especial na Jamaica, onde teve início a religião Rastafari, para a qual S.M.I. seria O Messias, O Leão de Judá.
Isso, evidentemente, é uma blasfêmia, uma claríssima desobediência ao Primeiro dos Dez Mandamentos, para quem crê na doutrina da Trindade:
Não terás outros deuses diante de mim. (Livro de Êxodo, Capítulo Vinte, Versículo Terceiro, na Tradução Corrigida e Fiel de João Ferreira de Almeida)
Link para a página completa onde se encontra esse versículo:
Sim, certa feita, S.M.I. foi à Jamaica e, quando desembarcou no aeroporto de Kingston, a capital desse país, ficou chocado ao ver uma multidão que o esperava, fumando maconha, elemento essencial da religião rastafari...
Para os rastafaris, o Messias viria da África, para libertar o povo negro.
Quando S.M.I. Hailé Selassié se projetou no cenário internacional, um jamaicano profetizou (?) que ele, Selassié, seria o Messias que teria voltado à Terra.
E teve início a idolatria em relação a ele - que continua até hoje, por sinal, entre os adeptos do rastafarianismo.
Da esq. para a dir.: S.M.I. Hailé Selassié I e Presidente Nasser (Egito)
Selassié foi um dos fundadores da Organização da Unidade Africana, conseguiu abolir a escravatura em seu país, em 1923, sendo então a Etiópia admitida como membro da então Liga (ou Sociedade, dependendo do idioma) das Nações e, posteriormente, membro da ONU (Organização das Nações Unidas).
Infelizmente, não conseguir atingir um de seus principais objetivos, que era modernizar seu país, que passou, durante seu governo, por duas guerras: a Segunda Guerra Ítalo-Etíope (1935-1936) e a Segunda Guerra Mundial.
Em 1936, proferiu um de seus memoráveis discursos (que estão entre os melhores do Século XX), na Liga das Nações, denunciando a Itália por agressão militar e uso de armas químicas, contra a população etíope.
S.M.I., em 1965
Sim, cometeu erros e não o isentamos de culpa por eles mas, ainda assim, Hailé Selassié foi uma das figuras mais dignas e honradas, em nossa modesta opinião, dos tempos recentes.
Em 1960, durante uma visita ao Brasil, durante o governo de Juscelino Kubitscheck, houve um golpe de estado na Etiópia.
Quando retornou, rapidamente, a seu país, ficou sabendo que um seu amigo pessoal, o atleta olímpico e vencedor da Maratona (correndo descalço, pois a Adidas não tinha levado sapatilhas suficientes, para calçar todos os atletas que participaram da prova) Abebe Bikila, nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, tinha participado de tal golpe de estado.
Quase todos os participantes daquele golpe de estado foram executados mas, num gesto de nobreza, Selassié o perdoou (Abebe Bikila), dizendo: "eu jamais poderia executar um amigo".
Bikila também foi medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio, em 1964, sendo considerado, pelos especialistas, como o maior maratonista de todos os tempos.
Brasão de Armas (Ordem do Serafim) de S.M.I. Hailé Selassié, por
Heralder
Note-se que Abebe Bikila foi forçado a participar desse golpe.
Detalhe: Bikila era o chefe da Guarda Imperial de Selassié.
Voltando à questão da religião, Hailé Selassié era um cristão ortodoxo e jamais afirmou ser Jesus ou algum tipo de messias.
Não, não foi ele que criou a idolatria em torno de si.
Coroa Imperial de S.M.I, em foto por
Sailko, no Museu Nacional da Etiópia
Um dia, certamente percebendo o que estava acontecendo, com muitos equivocadamente acreditando que ele realmente fosse Jesus, o Messias Salvador,
deu uma declaração, afirmando ser um cristão, que acreditava na religião, na espiritualidade e no próprio Jesus, mas que ele, Selassié não era Jesus e nem qualquer tipo de Messias.
Brasão de Armas (Cavaleiro da Ordem de Carlos III) de S.M.I., em foto por
Heralder e Sodacan
Num governo marcado por tantos reveses, lutas internas e guerras, a grande fome de 1972 e 1973 foi decisiva para um já idoso imperador.
Em 1974, foi deposto por um grupo de influência marxista, o que não era incomum naqueles tempos de Guerra Fria, quando a então União Soviética (hoje Federação Russa) financiava revoluções comunistas em todo o mundo.
S.M.I. Hailé Selassié I, em 1974
Faleceu em 27 de agosto de 1975, devido a complicações numa cirurgia na próstata, segundo o novo governo socialista, mas há suspeitas de que tenha, isso, sim, sido assassinado.
Fica aqui a nossa mais sincera homenagem a um homem que poderia ter se aproveitado de um status de suposto messias, de Cristo reencarnado ou coisa que o valha, mas que foi fiel a sua crença e negou sê-lo, numa época em que já havia tantos falsos cristos e falsos profetas...
Graça e Paz.
Missionário Clóvis Marques Guimarães Júnior, do Ministério Cristão Sã Doutrina Channel.
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